Tivemos aquela conversa que vai lá no fundo e agita passado, presente e futuro. Olhando o mar divagando sobre planos e sonhos que nunca serão. Tantas coisas pra ser que jamais seriam e eu tento me convencer que aquilo não passa de uma bobeira daquelas cotidianas, que a vida não poderia ser tão injusta, mas lá dentro de mim um alarme toca bem alto, avisando que de alguma forma tudo aquilo é verdade e que não há nada que possa ser feito. Ele carrega nos olhos uma tristeza profunda que quase nunca é mostrada, uma das únicas coisas que é capaz de apagar aquele sorriso inefável. Me pego desviando o olhar e fingindo que estou longe dali, mas ao mesmo tempo querendo estar ali como suporte, um pilar de sustentação, uma certeza de que ele não ira cair, ou se cair, de que não estará sozinho. Ele me pegou pelos braços e caminhamos lado a lado, dois pares de pegadas na areia. E eu imaginando como seria sem ele ali, olhar pra trás e ver aquele pequeno caminho que as pegadas fazem juntas e me dar conta, outra vez, de como a vida é injusta e de como o tempo passa tão rápido, me dou conta de que o caminho a frente é enorme, maior que qualquer um que percorri em toda minha vida e que só haverá um par de pegadas, as minhas. Penso em como será difícil andar por aquela estrada e imagino o que ele diria se eu perguntasse quais eram minhas opções e vejo claramente uma resposta saindo dos lábios dele “seguir em frente”. De toda essa dor e frustração a única coisa que tenho certeza é de que em mim ele viverá para sempre e isso me dá uma força pra continuar. Ele viverá profundamente arraigado nas minhas lembranças, na minha alma e no meu coração. E um pensamento me atinge como um raio, criando em mim uma certeza absoluta, de que tenho pela frente o dever de honrar uma promessa que foi feita sem nem uma palavra ser dita, a promessa de que, pelo menos em mim, ele viverá eternamente.
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